Itamar Vieira Junior, de Torto Arado a Salvar o Fogo

Na estreia do LI e CURTI escolhi duas obras de Itamar Vieira Junior. Não só porque, em um dos lançamentos do Salvar o Fogo na Feira do Livro, em São Paulo (junho/2023), pude conversar com ele e receber autógrafo. Não só porque é brasileiro, criado na pobreza e saído dos confins de onde já se nasce enredado em lutas por justiça e igualdade. Não só porque seus livros viraram “modinha politicamente correta”. Mas, porque gostei.

Assim, como Torto Arado, a narrativa de Salvar o Fogo é empolgante. Os personagens são vivos, parecem estar bem na nossa frente – olho no olho. A multiplicidade de narradores, o enredo, o cenário, o jeito com as PALAVRAS gritam e penetram na mente. Nos fazem ver além do nosso mero mundinho. As duas obras têm o poder de emocionar, encantar e indignar o leitor a cada página. Obrigada Itamar, por tudo isso.

Sinopse: Moisés vive com o pai Mundinho, e a irmã Luzia. Outros irmãos foram embora. Órfão de mãe, encontra afeto com Luzia – estigmatizada por supostos poderes sobrenaturais. Lavadeira do mosteiro da região, Luzia é extremamente religiosa, o que a faz educar Moisés com rigidez. Tem a esperança de reunir a família novamente. Anos depois, uma grave situação oportuniza o reencontro – que promete omitir décadas de segredos e sofrimentos.

Personagens principais: Moisés. Luzia. Mundinho. Maria Cabocla.

Onde a história se passa: Tapera do Paraguaçu, povoado rural na Bahia. Uma comunidade de agricultores, pescadores e ceramistas de origem afro-indígena que vive ao mando da igreja.

O que o enredo conta: Na comunidade, descendentes de negros e indígenas apresentam traumas do colonialismo e vivem sob a rigidez da Igreja Católica, das disputas de terra e das imposições culturais. Demonstra que a miséria e a exploração persistem por séculos.

“A cada aragem suspirava, e o peito subia e descia com o vaivém das águas sobre o mangue.”
Itamar Vieira Júnior – Salvar o Fogo
Editora Todavia, 2023

TORTO ARADO (Editora Todavia, 2019)

Sinopse: As irmãs Bibiana e Belonísia vivem em condições de “trabalho escravo contemporâneo” em uma fazenda. Juntas encontram uma misteriosa faca na mala guardada debaixo da cama da avó. Ocorre então um acidente e, para sempre, uma deverá ser a voz da outra.

Personagens principais: Bibiana, Belonísia e Santa Rita Pescadeira (entidade religiosa).

Onde a história se passa: Fazenda Água Negra, na Chapada Diamantina, sertão da Bahia. 

O que o enredo conta: Traz vozes femininas que expressam memórias coletivas de desigualdades raciais, sociais e de gênero. Evoca as resistências ancestrais dos povos quilombolas, suas lutas e ligações com a terra: questão agrária e do reconhecimento dos direitos do povo negro, indígena e imigrante.

“Se o ar não se movimenta, não tem vento, se a gente não se movimenta, não tem vida.”
Itamar Vieira Júnior – Torto Arado
Editora Todavia, 2019

Sobre o Autor

Itamar Rangel Vieira Júnior nasceu em Salvador, em 1979. É Graduado e Mestre em Geografia, pela Universidade Federal da Bahia. Além da literatura, atua como funcionário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

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