O bruxo, o TikTok e a beleza que transcende as línguas

Machado de Assis viralizou mais uma vez. E isso nos mostra caminhos para aprender uma segunda língua com a literatura

Machado de Assis sempre foi viral. E de tempos em tempos isto fica explícito.

Desta vez foi com a disparada de buscas por Memórias póstumas de Brás Cubas depois que a escritora e podcaster americana Courtney Henning Novak publicou no TikTok um vídeo sobre o livro. Ela está com um projeto pessoal de leitura de um livro de cada lugar do mundo e publicando suas impressões na rede social famosa pelas dancinhas. As leituras seguem a ordem alfabética dos nomes dos países. Ao chegar no “b” de Brasil, ela se deparou com The posthumous memoirs of Brás Cubas. E então pirou. Deixou isso bem claro: “O que vou fazer do resto da minha vida depois que terminá-lo?”

Courtney falou da leitura com termos como effortless e full of joy. Também fez a si mesma uma pergunta fundamental quando se analisa uma obra literária: o que Brás Cubas tem a dizer sobre nós? Um universo, certamente.

O viral sobre Machado de Assis tem a ver também com a beleza do texto, a ironia nas palavras e a perspectiva do narrador que nos desafia. Tudo isso permanece no texto traduzido por Flora Thompson-DeVeax para o inglês para a Penguin Classics – versão lida por Courtney. Foi o que percebi ao ler a mesma versão. Não foi, assim, uma experiência tão fácil, mas aqui está justamente o ponto que quero compartilhar. O aprendiz de uma segunda língua tem muito a ganhar ao ler uma obra ficcional no idioma em que se aventura. Principalmente, se já leu esta mesma obra na sua língua materna. Isso porque você descobre os sentidos de palavras e sentenças na nova língua pela dinâmica das cenas, os lugares descritos, as características e as falas mais marcantes dos personagens. O conhecimento prévio do enredo em português é o suporte principal para percorrer a história, neste caso, no inglês.

Claro que muito disso depende do interesse, do conhecimento e da relação do leitor com a segunda língua. Porém, lembramos aqui que a própria tradutora mesmo disse ter se encantado com a obra quando a leu pela primeira vez com o seu “português precário”. Então, por que nós não podemos fazer o mesmo com um inglês iniciante, intermediário ou avançado em The posthumous memoirs?

Afinal, se você conhece minimamente a obra de Machado, sabe que a famosa dedicatória do defunto narrador é ao verme que primeiro roeu as frias carnes:

To the worm that first gnawed at the cold fish of my cadaver, I dedicate as a fond remembrance these posthumous memoirs.

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