
O forte calor naquelas férias de verão lhe causa brotoejas no rosto e nuca. O suor que desce pelas costas é absorvido pelo cós do shorts jeans. O sorvete já não refresca, tampouco o ar-condicionado do carro.
Avista um quiosque à sombra e almoça o prato anunciado na placa fixada quase no meio da rua. O lugar, de nome típico praiano, está fincado entre árvores na margem de um rio – onde três ou quatro pequenos barcos pesqueiros acabaram de atracar.
O vento rodopia entre as mesas e cadeiras artesanais decoradas com imagens marinhas. Senta e usa os óculos para segurar os cabelos soltos. Refresca-se com água e limão até a chegada do prato principal. Satisfeita pela escolha, segue para mais voltas à beira-mar.
Na manhã seguinte vai à praia próxima de casa. Mas, o dia escaldante a faz sentar debaixo de uma árvore entre a calçada e a areia. A sombra do balançar das folhas nos raios do sol oscila nas páginas de um livro. Então, ele passa e a vê. Ela nem o percebe. É só mais um a ocupar a pista de caminhadas atrás de si.
A leitura continua entre os goles de água e os ruídos do espaço lotado. Ele passa novamente e desta vez seus olhares rapidamente se cruzam. Ela aguarda a próxima volta. Não demora e a passagem vem acompanhada de um breve sorriso. Na quinta ou sexta volta talvez, ele para. Zera o aplicativo dos quilômetros percorridos, enxuga o rosto, senta no banco de azulejos ao lado da cadeira dela e diz Oi. Ela retribui, fecha o livro e sorri.
Naquela manhã de sol, debaixo daquela árvore, assim meio sem jeito, entre gotas de suor e vermelhidão do calor, algo a mais passa a acontecer.

(Criado em 04/01/22 – Penha/SC)